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Lipedema: entendendo a condição frequentemente mal diagnosticada

  • Foto do escritor: Erica Paiva
    Erica Paiva
  • 28 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de mar.


O lipedema é uma condição crônica e progressiva que afeta principalmente mulheres, caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura nas pernas, braços e, às vezes, no tronco. Frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, o lipedema permanece subdiagnosticado e mal compreendido, tanto pelo público em geral quanto por muitos profissionais de saúde.



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O que é Lipedema?


Lipedema é uma doença do tecido adiposo que causa um acúmulo anormal e simétrico de gordura, principalmente nas extremidades inferiores. A condição foi descrita pela primeira vez em 1940 pelos médicos Allen e Hines da Clínica Mayo, mas só recentemente tem recebido maior atenção da comunidade médica [1].


Características principais:


  1. Afeta predominantemente mulheres

  2. Geralmente começa ou piora durante períodos de mudança hormonal (puberdade, gravidez, menopausa)

  3. Distribuição simétrica de gordura nas pernas, com os pés geralmente poupados

  4. Dor, sensibilidade e facilidade para hematomas nas áreas afetadas

  5. Resistência à perda de peso através de dieta e exercícios nas áreas afetadas


Epidemiologia


A prevalência exata do lipedema é desconhecida devido ao subdiagnóstico, mas estima-se que afete entre 11% e 39% das mulheres [2]. Um estudo recente na Alemanha sugeriu uma prevalência de 10% entre mulheres adultas [3].


Fisiopatologia


A causa exata do lipedema ainda não é totalmente compreendida, mas pesquisas recentes apontam para uma combinação de fatores:


  1. Genética: Existe uma forte componente familiar, com até 60% dos pacientes relatando histórico familiar [4].

  2. Disfunção hormonal: As mudanças hormonais parecem desempenhar um papel importante, especialmente os estrogênios [5].

  3. Angiogênese e linfangiogênese alteradas: Estudos mostram um aumento na formação de vasos sanguíneos e linfáticos nas áreas afetadas [6].

  4. Inflamação crônica: Há evidências de um estado inflamatório de baixo grau no tecido adiposo dos pacientes com lipedema [7].


Diagnóstico


O diagnóstico do lipedema é principalmente clínico, baseado na história e no exame físico. Não existe um teste específico para confirmar a condição, o que contribui para o subdiagnóstico.


Critérios diagnósticos:


  1. Acúmulo de gordura desproporcional e simétrico nas pernas e/ou braços

  2. Dor e sensibilidade nas áreas afetadas

  3. Facilidade para hematomas

  4. Resistência à perda de peso nas áreas afetadas através de dieta e exercícios

  5. Ausência de edema nos pés (sinal de Stemmer negativo)


Exames de imagem como ultrassonografia e ressonância magnética podem ajudar a diferenciar o lipedema de outras condições, como o linfedema [8].


Tratamento


Não existe cura para o lipedema, mas vários tratamentos podem ajudar a gerenciar os sintomas e retardar a progressão:


  1. Terapia Descongestiva Complexa (TDC): Inclui drenagem linfática manual, compressão, exercícios e cuidados com a pele [9].

  2. Exercícios: Atividades de baixo impacto como natação e caminhada são recomendadas para melhorar a circulação e o tônus muscular [10].

  3. Dieta anti-inflamatória: Embora não reduza o volume das áreas afetadas, pode ajudar a controlar a inflamação e melhorar o bem-estar geral [11].

  4. Lipoaspiração: Em casos avançados, a lipoaspiração pode ser considerada para reduzir o volume de gordura. Técnicas como a lipoaspiração em água (WAL) têm mostrado resultados promissores [12].

  5. Apoio psicológico: O impacto emocional do lipedema não deve ser subestimado, e o suporte psicológico é frequentemente necessário [13].


Pesquisas Recentes e Perspectivas Futuras


Estudos recentes têm focado em compreender melhor a fisiopatologia do lipedema e desenvolver novos tratamentos:


  • Investigação de biomarcadores para facilitar o diagnóstico [14]

  • Terapias celulares utilizando células-tronco para modular o tecido adiposo [15]

  • Desenvolvimento de medicamentos específicos para tratar a inflamação e disfunção metabólica associadas ao lipedema [16]


Conclusão


O lipedema é uma condição complexa e frequentemente mal compreendida que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Aumentar a conscientização entre profissionais de saúde e o público em geral é crucial para melhorar o diagnóstico precoce e o tratamento. Embora ainda não exista cura, a combinação de terapias conservadoras e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas, pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.


À medida que a pesquisa avança, há esperança de que novos tratamentos mais eficazes sejam desenvolvidos, oferecendo melhores perspectivas para aqueles que vivem com lipedema.


Referências:

  1. Allen EV, Hines EA. Lipedema of the legs: a syndrome characterised by fat legs and orthostatic edema. Proc Staff Meet Mayo Clin. 1940;15:184-7.

  2. Földi E, Földi M. Lipedema. In: Földi M, Földi E, eds. Földi's Textbook of Lymphology. 3rd ed. Munich, Germany: Urban & Fischer; 2012:395-403.

  3. Wiedner M, Aghajanzadeh D, Richter DF. Lipedema—Basics and Current Hypothesis of Pathomechanism. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2020;8(10):e3288.

  4. Child AH, Gordon KD, Sharpe P, et al. Lipedema: an inherited condition. Am J Med Genet A. 2010;152A(4):970-976.

  5. Szél E, Kemény L, Groma G, Szolnoky G. Pathophysiological dilemmas of lipedema. Med Hypotheses. 2014;83(5):599-606.

  6. Fife CE, Maus EA, Carter MJ. Lipedema: a frequently misdiagnosed and misunderstood fatty deposition syndrome. Adv Skin Wound Care. 2010;23(2):81-92.

  7. Crescenzi R, Marton A, Donahue PMC, et al. Tissue Sodium Content is Elevated in the Skin and Subcutaneous Adipose Tissue in Women with Lipedema. Obesity (Silver Spring). 2018;26(2):310-317.

  8. Crescenzi R, Donahue PMC, Weakley S, et al. Lipedema and Dercum's Disease: A New Application of Bioimpedance. Lymphat Res Biol. 2019;17(6):671-679.

  9. Wounds UK. Best Practice Guidelines: The Management of Lipoedema. London: Wounds UK, 2017.

  10. Paolacci S, Precone V, Acquaviva F, et al. Genetics of lipedema: new perspectives on genetic research and molecular diagnoses. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2019;23(13):5581-5594.

  11. Keith L, Seo CA, Rowsemitt C, et al. Ketogenic diet as a potential intervention for lipedema. Med Hypotheses. 2021;146:110435.

  12. Baumgartner A, Hueppe M, Schmeller W. Long-term benefit of liposuction in patients with lipoedema: a follow-up study after an average of 4 and 8 years. Br J Dermatol. 2016;174(5):1061-1067.

  13. Dudek JE, Białaszek W, Ostaszewski P. Quality of life in women with lipoedema: a contextual behavioral approach. Qual Life Res. 2016;25(2):401-408.

  14. Al-Ghadban S, Cromer W, Allen M, et al. Dilated Blood and Lymphatic Microvessels, Angiogenesis, Increased Macrophages, and Adipocyte Hypertrophy in Lipedema Thigh Skin and Fat Tissue. J Obes. 2019;2019:8747461.

  15. Kankam HKN, Hourston E, Fopp L, et al. Adipose-derived stem cells for the treatment of lipedema: A literature review. Stem Cells Transl Med. 2021;10(8):1096-1104.

  16. Herbst KL. Rare adipose disorders (RADs) masquerading as obesity. Acta Pharmacol Sin. 2012;33(2):155-172.

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